sábado, outubro 01, 2005












Hoje tive a oportunidade de ler um conto que já há algum tempo andava com vontade de conhecer. O conto chama-se “O Carocho-pirilampo que tinha medo de voar”, foi escrito pela Mafalda Veiga e, como sabem, deu origem à minha viagem na maionese preferida.
Claro que as viagens na maionese são só brincadeiras tontas. Gosto de as ouvir porque sou tonto também e porque me fazem rir um pouco quando vou de manhã para o trabalho, antes de chegar à marginal, enquanto ainda não vou a olhar o mar. É bom ir logo de manhã no carro a rir. Não ir com o stress que parece que algumas pessoas já vão, mal acabaram de acordar. Pode haver por vezes um pouco mais de trânsito, mas não é nada que possamos mudar. Por isso, nada melhor do que rir, ouvir música, pensar e relaxar.
E pensar, foi o que me fez fazer o conto quando o li. Tal como da viagem na maionese, também gostei. Mas o conto não me fez rir. Fez-me antes, sorrir. O conto, como o nome nos diz, fala sobre um pequeno carocho-pirilampo que tinha medo de voar. Esse carocho, vive nos sonhos de um pequeno rapaz que o queria ajudar. Os sonhos, que são o nosso mundo no escuro de fechar os olhos.
Eu explico! A Mafalda Veiga dedica o conto, no início do livro, ao seu filho “que, uma vez, numa conversa de antes de adormecer, me ensinou que há dois escuros: o escuro do quarto à noite e o escuro de fechar os olhos onde somos reis do nosso mundo e podemos torná-lo mais feliz e melhor”. Ou seja:

“Se fechares os olhos vês. Porque não é neste escuro do quarto à noite, é no outro escuro. […] São dois lugares diferentes. Às vezes são mesmo dois planetas diferentes porque neste último podes inventar o que quiseres, mesmo coisas que parecem impossíveis”.
No conto, o menino aprende que o que vê no escuro de olhos fechados é fruto da imaginação dele e que só depende dele sonhar mais alto e tornar possível mesmo o que parece mais difícil:

“Os sonhos são como comboiozinhos de nuvens, passam e às vezes param na cabeça de um menino e deixam lá uma história. Mas essa história é tua, inventada por ti. Tu até sabes que o carocho tem medo de voar, e ninguém te disse! Foste tu que me inventaste no teu sonho. A mim e ao carocho-pirilampo com medo de alturas”.
E o mesmo se passa quando crescemos e passamos a interagir com o resto do mundo. Existe o escuro do mundo, onde sabemos que existe tanta coisa mal feita e triste, e do qual é natural que tenhamos medo, e existe, na mesma, o escuro de fechar os olhos. Este último, é um escuro que esconde milhões que estrelas que são os nossos sonhos e os nossos objectivos, onde nós somos reis. Onde somos nós que decidimos até quando duram, até quando queremos continuar a lutar para os tornar possíveis. Por vezes é difícil, tal como foi difícil para o menino imaginar o frágil carocho-pirilampo voar. Mas cabe-nos a nós, quando queremos muito, encontrar forças para lutar, arranjar planos para o conseguir e, acima de tudo, Acreditar! Além disso, é só olhar com atenção em volta, que temos sempre uma ajuda, uma mão amiga com quem podemos contar. Foi também com ajuda que o menino conseguiu fazer o carocho-pirilampo voar:

“E o velho chapéu de palha desfez-se em mil pequenos pirilampos que se espalharam pelo ar a iluminar o mundo inteiro. Quer dizer, o sonho inteiro…”
E sabem o que acontece quando de ilumina um sonho inteiro? Sentimo-nos ainda mais felizes!

[E não! O carocho-pirilampo nunca se vai chegar a esborrachar no meio do chão! Se se continuar sempre a ter fé e a acreditar, mesmo que seja usando um outro plano, haverá sempre uma lufada de ar fresco que fará, pelo menos, o carocho planar… Porque é sempre pelo sonho que continuamos! Na foto, imaginem que a luz do cimo é uma luz de presença que nos impede de ficar no escuro do quarto ou do mundo e que os dois pontos luminosos, são as antenas luminosas do carocho-pirilampo que o menino vê no escuro de olhos fechados… =)]