segunda-feira, julho 18, 2005

Como se faz para se ser melhor?

Na semana passada foi a Joana Barros que preparou um momento para reflectirmos um pouco em grupo. Com a organização das últimas festas, a preparação das prendas e os jantares a que fomos, já não tínhamos assim um encontro mais sossegado há bastante tempo. Um daqueles encontros que nos faz pensar e partilhar aquilo que pensamos, nos faz ouvir e perceber o que de mais bonito têm as pessoas que nos rodeiam. A Joana propôs-nos falar de um tema em que costumo pensar todos os dias. É um tema que se resume a uma pergunta: “Como se faz para se ser melhor?”.
Claro que a resposta não é imediata. É mesmo possível que não exista apenas uma resposta certa para a pergunta. A resposta depende daquilo que para nós significa ser melhor e isso depende, por sua vez, da nossa cultura, da nossa educação e da nossa consciência. Depende dos nossos padrões e da nossa realidade. Depende de tanta coisa…
Mas uma coisa é certa, depende também da dimensão com que olhamos para a pergunta. E se olharmos para ela de uma forma geral e abrangente? Se olharmos para conceitos que penso que são universais e que às vezes são tão esquecidos... Quem é que, em qualquer local e com qualquer cultura, não se sente mais feliz quando é amado? Quem é que são de sente mais feliz quando é ouvido? Quem é que não se sente mais feliz quando é respeitado? E quem é que não se sente mais feliz quando à volta os outros lhe sorriem, lhe dão dinamismo e força? Penso que talvez a resposta à pergunta passe por ai. Quando pensamos no que podemos fazer para sermos melhores, pensamos no que podemos mudar para melhorar a nossa relação com os outros, e assim, talvez estejamos mais perto de o conseguir sempre que amarmos, ouvirmos, respeitarmos, sorrirmos e dermos dinamismo e força a quem nos rodeia. Se o fizermos, penso que podemos ser melhores em qualquer sítio do mundo onde nos encontremos, qualquer que seja a cultura desse local. Do que tenho visto do mundo, acredito que não existem pessoas propositadamente más entre as pessoas imediatas que nos rodeiam. Existem sim pessoas que, por vezes, têm dificuldade de se deixarem ser melhores por medos ou por inseguranças, por ideais ou por preconceitos. Pessoas que, por vezes, são incapazes de amar, de ouvir, de respeitar, de sorrir e de dar dinamismo e força a quem os rodeia. Pessoas que nesse momento não se conseguem abrir e sentir que o que realmente importa é sermos mais felizes e melhores com e para os outros.
E acho que é isso de que fala metaforicamente tão bem o texto que me calhou a mim e à Mercedes entre os quatro que lemos e discutimos. Foi retirado de um livro que deve ser bom para ler:
"Abri a segunda folha. Via-se na gravura um homem rico a distribuir dinheiro por uma multidão de pobres, à porta de sua casa. Os pobres estavam estupefactos. O homem, esse, estava visivelmente feliz. Ele e Jesus, que à janela da casa observava a cena e dizia: “Veio hoje a salvação a esta casa!”
Percebi tratar-se de Zaqueu, o cobrador de impostos de que fala S. Lucas no capítulo 19 do evangelho. Zaqueu era judeu mas trabalhava para o inimigo, cobrava impostos para os ocupantes, os romanos. Cobrava até muito mais do que o imperador exigia, e assim enriquecera. Tirava dinheiro aos pobres para se manter nas boas graças dos poderosos, vivia às custas de uns e em função de outros.
Um dia, que havia de virar para sempre a sua vida, Jesus foi a sua casa. E este encontro mudou completamente as suas relações com os outros. Decidiu restituir generosamente tudo o que tinha cobrado a mais e, quanto ao resto da sua fortuna, dar metade aos pobres. Não passou muito tempo até os ter a todos à porta de sua casa!
Era esta a cena que a gravura mostrava: Zaqueu feliz a abrir o cofre, perante os olhares ainda incrédulos da população. Sob a gravura uma legenda dizia:
“DESCE À PORTA DA TUA CASA E ABRE O COFRE”
Gostei de imaginar Zaqueu tão preocupado com as pessoas que tinha à porta de casa que nem tinha tempo para se lembrar da sua própria conversão. Mas esta, no fundo, era nada mais do que a sua falta de tempo para se preocupar consigo. Antes vivia para si, à custa dos pobres e em função dos poderosos. Agora vivia simplesmente para os outros.
Fiquei a pensar que também à nossa porta Deus põe tantas pessoas! "Desce à porta de tua casa e abre o teu cofre" "
Pe Nuno Tovar de Lemos
O Príncipe e a Lavadeira
Eu sei que é um desafio consegui-lo. Mas é um desafio que eu quero experimentar. Tudo se torna depois tão mais fácil. Os frutos e ou louros são tão bons. Olhamos para a seara inteira, colhemos apenas o trigo e queimamos todo o joio…

1 Comments:

Blogger Broken M said...

O problema é que é muito mais fácil sermos melhores com desconhecidos.
No dia-a-dia, com as pessoas que nos estão mais próximos é que está o grande desafio.

1:29 da manhã  

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