sexta-feira, abril 22, 2005

Tempos que nos ajudam a tornar banal o impossível, a ultrapassar o inatingível, a sentir o intocável…

É tão bom, tão reconfortante, tão saboroso, tão puro. Podermos passar os nossos dias junto das pessoas de quem mais gostamos. Estar com elas sem nos sentirmos pressionados pelo som apressado do ponteiro dos segundos. Poder usar o nosso tempo para saborear os momentos em toda a sua plenitude. Vive-los de forma a poderem ser gozados, memorizados, eternizados…
Passear nos relvados; observar os patos a comerem o arroz que uma senhora deixou espalhado no chão; ficar deitado perto de um lago a sentir o sol forte bater na cara e ver aquele vermelho intenso nas pálpebras dos olhos fechadas; ver as pombas rasarem-nos a voar, com o medo que deixem cair sobre nós algo menos próprio; ouvir o barulho das suas asas a baterem; conhecer novas pessoas que nos encantam; sentirmo-nos amados; esperar à tarde por um amigo; pintar um quadro; trocar ideias para preparar momentos; beber um bom vinho; tirar fotografias; conversar; ouvir música; sorrir…
Chegar a casa ao fim do dia e sentir que tudo vale a pena; que para além das nossas dúvidas, dos nossos medos e problemas, existe a certeza de que temos algo e alguém em quem nos podemos sempre apoiar; que para além dos problemas ocos do “ser ou não ser”, o que realmente importa é procurarmos viver juntos os momentos simples que nos trazem felicidade. Porque é depois dos momentos mais simples que a sentimos com mais força: o que há mais simples do que sorrir com amigos, do que passear com a namorada, do que ir jantar fora, do que chegar a casa e contar as nossas novidades aos nossos pais?
São momentos em que tudo o resto se torna tão pequeno; que nos ajudam a repensar as nossas prioridades, que nos ajudam a tornar tão simples aquilo que no correr do dia a dia parece por vezes tão complicado. Olhamos para trás e vemos as tempestades que tantas vezes fazemos por coisas tão pequenas; as discussões que tivemos por coisas tão insignificantes; o stress que vivemos por coisas que apenas tinham de ser vividas com calma, descontracção e estupidez natural…
E assim seguem os nossos dias uns atrás dos outros. Temos tempos em que conseguimos desfrutar os nossos momentos e nos sentimos mais felizes e radiantes. Tempos que nos ajudam a tornar banal o impossível, a ultrapassar o inatingível, a sentir o intocável e que nos ajudam, do seu topo, a pesar prioridades, escolhas, atitudes, comportamentos, tal como é mais fácil avistar mais ao longe quando subimos a uma colina. O segredo é deixarmo-nos invadir mais vezes por esses momentos e permitir, junto de quem gostamos, que eles aconteçam e se repitam nas nossas vidas. Criar oportunidades para que eles nasçam da simplicidade…