segunda-feira, abril 04, 2005

Aquele abraço profundo ao meu amigo Karol

… Era uma criança quando o fui ver pela primeira vez. É claro que já tinha ouvido falar muito dele, mas para mim era só um grande senhor que indicava, de acordo com a palavra que Jesus nos deixou, os melhores caminhos que nós, enquanto Igreja, devíamos tomar. Na minha cabeça era um senhor de já alguma idade que se deveria vestir com umas roupas muito coloridas. Roupas com as cores do arco-íris. Talvez como sinal de alegria, de testemunho e de esperança. Estava então nesta expectativa na berma duma estrada por onde ele ia passar quando, no meio de milhares de pessoas e junto dos meus avós, o vi finalmente no Papa-móbil a acenar para todos os que o esperavam ver e também para mim. Eu, um pequeno rapaz que naquele momento descobriu que ele afinal se vestia de branco, que é a junção de todas as cores que tinha imaginado. Lembro-me que passou rapidamente e que num instante o deixei de ver, mas na sua passagem permaneceu paz e mantiveram-se sorrisos nas caras das pessoas que abanavam os seus lenços brancos. Os meus pais foram vê-lo e ouvi-lo no Estádio onde ele ia falar com todos os portugueses na nossa língua, com a sua experiência.
Hoje em dia, e mais longe da ingenuidade que todos temos em criança, podia relembrar aquele momento com menos sensibilidade. Podia pensar que o Papa era só um homem que também errava e que tinha as suas fraquezas. Pensar que não tinha sentido a aclamação que se fazia sempre que ele passava por perto. Mas de facto, não é isso que diz o meu coração.
Desde pequeno, à medida que fui crescendo, a ideia que tinha dele foi sendo aos poucos consolidada e reforçada. Ele deixou de ser para mim só o que me tinham explicado que ele era e o que representava, mas passou a ser também aquilo que eu sentia que ele era. Um exemplo para todos nós pelas suas causas, pela sua força e pela sua entrega.
As lutas que ele iniciou, os seus princípios e, acima de tudo, a sua fé, são um testemunho vivo da forma como acho importante olhar para o mundo e para Deus. Foram constantes os seus esforços para a valorização da paz no mundo, dos direitos humanos, do diálogo entre as culturas, dos encontros ecuménicos e foi sempre tocante a forma e respeito com que falava com os jovens. Porque se nós vivemos no mundo rodeados de pessoas que diferem de nós é para partilharmos com elas a alegria de vivermos nesta nossa casa recheada de tantas coisas bonitas e para saborearmos sentimentos que nos fazem crescer a alma e ser um sorriso na cara daqueles com que nos cruzamos.
Foi já olhando para ele desta forma que em 2000, no ano do Jubileu, fui revê-lo e ouvi-lo quando ele veio de novo a Portugal . Dessa vez, fui com grandes amigos até Fátima num fim-de-semana que me é tão presente e que todos gostámos tanto. Éramos 17 jovens no meio de uma multidão enorme que se juntou para assistir também à beatificação dos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto. Antes do Papa chegar cantávamos num ambiente descontraído enquanto esperávamos. Íamos conversando também com as pessoas que estavam à nossa volta debaixo do sol intenso. Quando o nosso amigo Karol chegou, só se viam novamente milhares de braços erguidos acenando com lenços. Eu acenava o lenço do meu grupo de jovens que mais tarde ele abençoou, como a todos os objectos religiosos que as pessoas levavam consigo.
E pouco demorou até o momento mais mágico desse fim-de-semana. Na capelinha das Aparições, o Santo Padre entregou a Nossa Senhora um anel que lhe tinha sido dado no início da sua caminhada enquanto Papa e rezou de seguida para Ela, ajoelhado. Nesse momento, todos nos ajoelhamos também e fez-se um silêncio absoluto entre aqueles milhares de pessoas. Um silêncio profundo e emocionante. Um silêncio que deu sentido a todo o fim-de-semana, a todas aquelas pessoas presentes, a todo aquele momento de oração. Um silêncio de respeito e de partilha. Um silêncio com Deus. Um silêncio como expressão maior de profundidade de vida.
Na noite de sábado para domingo dormimos os 17 ao relento no Santuário. Adormecemos todos juntinhos na tentativa de nos aquecermos. Foi um fim-de-semana em cheio e cheio, essencialmente de Fé. Para mim, um caminhar mais perto de Jesus que é a minha referência.
Hoje, relembro todos estes momentos com alegria. São dias em que dizemos um adeus a este homem que todos olhamos de uma forma especial pelo exemplo que ele sempre será enquanto dele nos lembrarmos. A ele deixo um obrigado e desejo que descanse em paz.
A Deus, agradeço ter colocado na nossa vida um homem que tanto lutou sempre com um sorriso por causas que considero tão nobres e que nos ensinou a cultivar a nossa fé…

Na carta que escreveu este ano pediu aos jovens para alimentarem a sua fé e o seu entusiasmo seguindo os conselhos que Jesus nos deixou e vivendo a Eucaristia. Está em cada um de nós procurar sentir o que essas palavras nos dizem. Ou então não…

Beijinhos e Abraços!!