Se eu lançasse hoje o meu primeiro livro, esta seria a fotografia que eu iria escolher para a capa.
É claro que escrever um livro não deverá ser de forma alguma uma das coisas que irei fazer num futuro próximo. Nem sei mesmo se algum dia o chegarei a fazer. Acho que mais rapidamente terei oportunidade de plantar uma árvore ou mesmo de ter um filho. Escrever um livro envolve um conjunto vasto de capacidades que nem toda a gente tem e que se desenvolvem com a experiência de vida. É necessária uma maturidade especial, uma sensibilidade particular que nos permita transcrever de uma forma clara sentimentos, sensações, saberes, informações... É imprescindível um conhecimento profundo sobre o que se escreve... Gostar de escrever, ou ter vontade de escrever para se transmitir o que se pensa, não é suficiente.
Se um dia tiver a oportunidade e a maturidade para escrever um livro, ou parte de um livro, penso que será um livro de pensamentos soltos, pois é sobre aqueles pensamentos que nos invadem de repente nos nossos dias, que por vezes sinto uma vontade enorme de escrever. Uma ânsia de escrever pequenos textos que simbolizem momentos, que expliquem diferentes sensibilidades, que personifiquem vivências e relações, que transmitam princípios e que nos façam pensar, reflectir e sorrir. Um livro que poderia dar a toda a gente de quem gosto. Uma forma de dar um pouco de mim e do meu olhar para o mundo.
E é por tudo isso que escolheria esta fotografia. Tirei a fotografia no sábado ao fim da tarde, mas já foram muitas as vezes que a procurei para olhar mais para ela. É uma fotografia que me transmite tanta coisa. Primeiro que tudo relembra-me uma tarde excelente passada com dois grandes amigos com os quais é sempre um prazer tão grande estar. Dois daqueles amigos em quem pensamos logo, sempre que queremos falar dos nossos problemas ou quando temos planos para fazer algo divertido. Daqueles amigos com os quais sabemos que temos sempre momentos que, por mais simples que sejam, se tornam especiais. Com quem fazemos os nossos disparates e nos rimos das coisas mais simples. Com os quais nos sentimos sempre bem, confiantes, seguros e queridos. Na fotografia vêem-se as nossas sombras naquela parede de uma cor laranja intensa. As sombras, fazem-me lembrar o que nós somos mais intimamente; o nosso Eu mais indefinido; aquilo que não vêem em nós antes de nos conhecerem os valores, os sentimentos e os sonhos. Vejo-as a representar tudo o que temos vontade de expressar. A cor laranja, por seu lado, parece dar intensidade, calor e vida a esses sentimentos todos que extravasão. E depois... depois acho magnífico o afastamento entre as nossas sombras e o facto de estarem as três à mesma altura, com a mesma importância. O afastamento, parece que simboliza os nossos caminhos paralelos pela vida, onde cada um de nós caminha pelos seus próprios pés, mas à distância de um olhar e de uma mão amiga. Caminhamos por aquela calçada característica que representa as nossas origens e ao mesmo tempo um avançar para a frente com os nossos objectivos e com a mesma força com a qual procuram crescer as ervas que dão o tom esverdeado de esperança ao seu fundo branco de paz...
Caminhamos todos juntos nesta vida que nos traz todos os dias coisas tão simples e tão boas, que reunidos podemos melhor apreciar e saborear. Tão certo como o ar que respiro, tão certo como a manhã que se levanta, tão certo como as amizades fortes que se fazem sentir.

[Na foto, a sombra do meio é a minha. À esquerda está a sombra do António que estava a passear o Anfi e à direita a da Andreia. Para mim é uma foto que traduz momentos inesquecíveis de sorrisos profundos. Deixo também um obrigado, obrigado, obrigado, muito obrigado, obrigadíssimo! Como a Andreia me disse ontem... Quem tem um amigo, tem tudo!! Muitos sorrisos!!]