quinta-feira, outubro 20, 2005



















Até da monotonia
das paisagens sem cor
podemos extrair
paisagens de poesia
com algumas pitadas de amor.
É simplesmente
um problema de criatividade
de amar ou não amar.

Este foi talvez o ensinamento que tirei dos últimos dias desta semana…
Foram dias mais calmos em que, depois de chegar do trabalho, me encontrei várias e repetidas vezes sozinho com as minhas coisas, com os meus textos e com os meus livrinhos. Estava a precisar, eu sei, porque me sentia mais cansado, porque o fim-de-semana anterior foi só de um dia e porque pareceu que a semana se foi estendendo e estendendo por mais tempo. Mas gosto mais de aproveitar os finais dos dias com actividades, com encontros, com algo que os ajude a ter ainda mais valor e lhes dê ainda mais sentido. Um sentido novo e diferente do que teve o dia anterior. Mais um motivo e uma força para continuar a lutar por aquilo que nos comanda a vida.
Mas isso nem sempre se torna possível e é nos dias em que paramos mais um pouco que temos também mais tempo para pensar, até naquilo que, por vezes, não deveríamos. Damos a volta ao mundo em pensamentos. Pensamos no que mais ninguém se lembrou de pensar. Pensamos no que toda a gente acaba por pensar. Pensamos na vida, no seu sentido, nas relações, naquilo que mais nos completa e nos faz sorrir, e naquilo que nos falta preencher e que nos pesa. Lembramo-nos, relembramo-nos, revivemos, recapitulamos, sistematizamos, consideramos, ponderamos, reflectimos, magicamos… O que às tantas acontece é que, entre tantos pensamentos e espaço para pensar, acabamos por sentir os dias mais pesados, aborrecidos, repetitivos e monótonos. Acho que é por isso que a maioria das pessoas gosta de ver televisão. Nessas alturas apetece-nos espairecer, rir e contar umas piadas. Apetece-nos sair e descontrair. Mas nem podemos fugir muito. Esses momentos acabam sempre por existir, mais cedo ou mais tarde, chegam e ocupam-nos, por vezes, com um vazio.
O que me contenta é que mesmo desses momentos mais monótonos e sem cor, conseguimos aproveitar tanta coisa boa. Mesmo quando nos formam um vazio, muitas vezes percebemos, mais tarde, que esse vazio se torna importante e necessário para impulsionar uma vontade de mudar. De mudar aquilo que nos faz sentir apenas uma metade. Outras vezes podemos aproveita-los para fazer algo diferente. Para preparar uma surpresa para as pessoas em que acabamos por pensar ou por mandar uma mensagem ou fazer um telefonema mais sentido e especial. E de repente, esses momentos podem transformar-se em momentos diferentes e únicos, que transformam os dias acabando por lhes dar aquele sentido que os torna diferentes dos anteriores e que dá mais força para continuar.
Porque é assim que todos os momentos monótonos e sem cor acabam. Com motivos que os fazem esquecer e que ajudam a colorir novos momentos apenas com cores vivas. E quando falo em cores vivas, falo daquilo que nos faz sorrir. Falo de poesia, de música, de amor. É simplesmente um problema de criatividade, de não ficar parado mesmo quando parece que as cores se começam a esbater. É simplesmente um problema de amar ou não amar. Porque quem ama, acredita e transforma.

[Eu também acabei por colorir os meus momentos monótonos. Obrigado aos anjinhos que, por existirem, me vão ajudando =)]