terça-feira, outubro 18, 2005

As coisas que nos fazem viver

Medicina, direito, gestão e engenharia são nobres actividades necessárias à vida.
Mas a poesia, a beleza, o romance e o amor são as coisas que nos fazem viver.
Nos últimos dias, e na sequência de várias conversas que tive e de textos que li, tenho-me questionado um pouco sobre o sentido da vida. Ou melhor, sobre o sentido das nossas vidas cheias e atribuladas. Porque o que me faz questionar não é realmente o facto de não perceber o sentido que tem a vida, ou o sentido que lhe podemos conferir. Esse, para mim e felizmente, parece que se torna tantas vezes tão claro, tão certo e absoluto. Sempre que me sinto cheio, inteiro, completo e feliz. Aliás, é esse sentido que me faz sentir e saborear a vida como uma grande oportunidade de viver momentos inesquecíveis de sorrisos profundos que vêm ter connosco sempre que nos damos, sempre que nos entregamos. O que me faz questionar, é a forma como a nossa vida em sociedade nos afasta ou se afasta, tantas vezes, desse sentido. Parece-me tantas vezes que as pessoas andam tão fechadas em si próprias e nas suas coisas… E não estou a falar de feitios. Sempre houve pessoas mais reservadas do que outras, que se integram mais ou menos facilmente e que dão diferentes significados à forma de se estar em grupo, em conjunto. Estou a falar da forma como as pessoas se entregam para viver a vida e ao que se entregam. Ao facto de tantas vezes passarem os dias sem se lembrarem de esboçar um sorriso, sem se lembrarem de trocar uma palavra amiga com quem as rodeia, sem se lembrarem do que é a tolerância, o respeito, a partilha… Pessoas que só criticam, que só duvidam, que só competem, que são incapazes de dizer boa tarde antes de perguntarem por uma terceira pessoa da qual estão interessadas em saber uma informação, que são incapazes de passar um dia sem terem os próximos cinco anos planeados ao detalhe e que se tornam máquinas que circulam nas nossas cidades. Máquinas que trocam sorrisos sinceros por sorrisos superficiais, que trocam a amizade por relações cordiais, que vivem em busca de um futuro promissor, quando o futuro só depende daquilo que de bom construímos a cada dia que vivemos. Ser bom no que se faz e trabalhar com afinco e empenho, ter uma família e zelar com ela, não é impeditivo de ser humano, de estar e de respeitar, de sentir e de amar, mesmo com as vizinhanças, nas trocas de olhar e com as pessoas com que nos cruzamos por acasos. Mesmo nos contactos feitos por palavras simples e por instantes. Não é impeditivo de formar raízes! Por mais que toda a nossa vida atribulada passe pelas actividades nobres e essenciais que são os nossos empregos e os nossos deveres perante a sociedade, que nos dão também alegrias e realização se não forem extremados, ela só tem sentido se continuar a girar em torno do que nos liga a todos e que é universal para além do tempo, para além das eras. Do pobre ao rico, do santo ao pecador, do preto ao branco, dos civilizados aos mais ditos selvagens, dos velhos aos novos. Os sentimentos, o respeito, a amizade e o amor constantes! São eles que importam viver! O resto é apenas uma ocupação do tempo que nos permite fazer algo de específico e bem feito, em prol da nossa sociedade, para que possamos partilhar e usufruir todos da vocação de cada um. Este resto é só uma ferramenta. Deveria ser só uma forma de fortificar ainda mais o contacto entre as pessoas, de estabelecer relações e de nos unir mais na paz que todos queremos ter. Porque é que tantas pessoas fogem do que é visível? Parece que é preciso passarem por situações limite ou por momentos drásticos na vida para aprenderem a dar-lhe valor! Parece que é preciso chegarem a velhos! Mas porquê? Basta ouvir e olhar em volta. Todos os filmes dizem o mesmo! Todas as musicas, todos os livros, todos os corações que são escutados…

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"Os sentimentos, o respeito, a amizade e o amor constantes! São eles que importam viver! O resto é apenas uma ocupação do tempo que nos permite fazer algo de específico e bem feito, em prol da nossa sociedade, para que possamos partilhar e usufruir todos da vocação de cada um."
Foi a passagem k mais gostei neste texto... é tb essa a minha opinião: o que interessa é viver os sentimentos, pk são eles (apesar de desencadearem tb momentos menos bons, de dor e sofrimento) os que nos fazem sentir vivos e completos. São esses momentos k recordamos em fotos, em filmes, em pinturas, em canções, em palavras, em abraços, em sorrisos, em beijos e em silêncio.
Obrigada por tudo o k disseste hj.
"Um Amigo é um bem, um tesouro k se tem...".
Ainda bem k tenho um Amigo como tu.
Beijos

10:47 da tarde  
Blogger Tiago Krug said...

Agora sim o post ficou completo!
Obrigado pelo comentário!
Como disse, foste tu que me deste hoje a inspiração para escrever.
Obrigado também pelo sundae de caramelo, pelo passeio ao longo da praia, pelas conversas que tivemos a olhar o mar, pela confiança, pela amizade. Aquela amizade que já é impossivel esquecer por fazer parte de tantas boas recordações!
Ainda bem que tenho uma Amiga como tu.
Beijos

10:58 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Gde Tiago. Que belas e significativas as tuas palavras. Gde abraço. bernardo

1:26 da manhã  

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